quinta-feira, 1 de setembro de 2016

‘Meia condenação’ de Dilma alimenta tese de golpe

A manutenção dos direitos políticos de Dilma Rousseff (PT) no momento seguinte à aprovação do impedimento dela pelos senadores vai alimentar a tese de golpe parlamentar, tramado pela trinca Eduardo Cunha (PMDB)/Michel Temer (PMDB)/Aécio Neves (PSDB). A leitura é simples: se o Senado entende que houve cometimento de crime de responsabilidade e que, por isso, a petista não poderia permanecer no comando do país, nada justificaria que ela continuasse habilitada para o exercício de função pública e de poder ser eleita. Muito diferente do que ocorreu com Fernando Collor e uma visível releitura da lei.

‘Meia condenação’ de Dilma alimenta tese de golpe

O desfecho do processo de impeachment de Dilma sintetiza o que foi toda a caminhada dos debates desde a instalação, na Câmara dos Deputados. Os petistas e a própria ex-presidente se referia ao caso como peça de vingança do ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E eles têm razão. Foi largamente alardeada toda a condução e manobras do peemedebista para que o impeachment ganhasse peso e força para o afastamento da gestora, cujo maior crime em todo o processo foi a falta de habilidade política para sufocar as articulações.

A decisão cria as condições para que Eduardo Cunha, que terá o processo de cassação do mandato votado na Câmara dos Deputados no próximo mês, possa recorrer ao mesmo artifício. Poderá ser afastado do cargo e, mesmo assim, voltar à Câmara dos Deputados em 2019, desde que escape da praticamente certa condenação e prisão. A possibilidade foi alertada pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), líder da sigla tucana na Casa, e que é acusado pelos petistas de ser um dos artífices do “golpe”. O fato é que foi aberto um precedente gravíssimo, com potencial de livrar a cara de gente com passado muito sujo.

As votações tiveram placar expressivo, mas destoantes. Para afastar Dilma Rousseff, o resultado foi maior que o esperado. Foram 61 votos a favor e 20 contra. Já a votação que manteve a presidente habilitada foi de 42 a favor, 36 contra e 3 abstenções. Eram necessários dois terços dos senadores que a petista ficasse impedida de exercer funções públicas. “Minha solidariedade à jovem democracia brasileira. Meu inconformismo a tudo que busque golpear essa frágil construção que tanto custou ao Brasil”, disse o governador Ricardo Coutinho (PSB), um dos principais apoiadores da presidente.

O resumo da ópera é que Dilma Rousseff perdeu o mandato por causa da crise econômica revelada após as eleições de outubro de 2014. Além disso, a gestora teve a infelicidade de dar de cara com os escândalos de corrupção atingindo integrantes do governo e do seu grupo político. O fim da história todo mundo sabe. A vantagem em relação a Fernando Collor é que ela sai com todos os direitos inerentes aos ex-presidentes. Terá segurança e pessoal de apoio, já que cumpriu integralmente o primeiro mandato como presidente da República. O impeachment chegou ao fim, mas as polêmicas…

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