A manutenção dos direitos políticos de Dilma Rousseff (PT) no
momento seguinte à aprovação do impedimento dela pelos senadores vai
alimentar a tese de golpe parlamentar, tramado pela trinca Eduardo Cunha
(PMDB)/Michel Temer (PMDB)/Aécio Neves (PSDB). A leitura é simples: se o
Senado entende que houve cometimento de crime de responsabilidade e
que, por isso, a petista não poderia permanecer no comando do país, nada
justificaria que ela continuasse habilitada para o exercício de função
pública e de poder ser eleita. Muito diferente do que ocorreu com
Fernando Collor e uma visível releitura da lei.
O desfecho do
processo de impeachment de Dilma sintetiza o que foi toda a caminhada
dos debates desde a instalação, na Câmara dos Deputados. Os petistas e a
própria ex-presidente se referia ao caso como peça de vingança do
ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). E eles têm razão. Foi
largamente alardeada toda a condução e manobras do peemedebista para que
o impeachment ganhasse peso e força para o afastamento da gestora, cujo
maior crime em todo o processo foi a falta de habilidade política para
sufocar as articulações.
A decisão cria as condições para que
Eduardo Cunha, que terá o processo de cassação do mandato votado na
Câmara dos Deputados no próximo mês, possa recorrer ao mesmo artifício.
Poderá ser afastado do cargo e, mesmo assim, voltar à Câmara dos
Deputados em 2019, desde que escape da praticamente certa condenação e
prisão. A possibilidade foi alertada pelo senador Cássio Cunha Lima
(PSDB-PB), líder da sigla tucana na Casa, e que é acusado pelos petistas
de ser um dos artífices do “golpe”. O fato é que foi aberto um
precedente gravíssimo, com potencial de livrar a cara de gente com
passado muito sujo.
As votações tiveram placar expressivo, mas
destoantes. Para afastar Dilma Rousseff, o resultado foi maior que o
esperado. Foram 61 votos a favor e 20 contra. Já a votação que manteve a
presidente habilitada foi de 42 a favor, 36 contra e 3 abstenções. Eram
necessários dois terços dos senadores que a petista ficasse impedida de
exercer funções públicas. “Minha solidariedade à jovem democracia
brasileira. Meu inconformismo a tudo que busque golpear essa frágil
construção que tanto custou ao Brasil”, disse o governador Ricardo
Coutinho (PSB), um dos principais apoiadores da presidente.
O
resumo da ópera é que Dilma Rousseff perdeu o mandato por causa da crise
econômica revelada após as eleições de outubro de 2014. Além disso, a
gestora teve a infelicidade de dar de cara com os escândalos de
corrupção atingindo integrantes do governo e do seu grupo político. O
fim da história todo mundo sabe. A vantagem em relação a Fernando Collor
é que ela sai com todos os direitos inerentes aos ex-presidentes. Terá
segurança e pessoal de apoio, já que cumpriu integralmente o primeiro
mandato como presidente da República. O impeachment chegou ao fim, mas
as polêmicas…
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