sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

PCC cresce fora de SP e já tem um terço de seus membros no Norte-Nordeste

  • Presos cavam em busca de corpos após confronto de facções em presídio no RN
    Presos cavam em busca de corpos após confronto de facções em presídio no RN
O Norte e o Nordeste do país são as mais novas fronteiras da expansão do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Brasil. As duas regiões, onde três grandes rebeliões já causaram a morte mais de cem presos nos primeiros dias deste ano, têm hoje cerca de 6 mil criminosos ligados à facção de origem paulista. Isso corresponde a cerca de 33% de todos os filiados à organização.
O Sudeste tem cerca de 43% dos membros do PCC. O Sul tem quase 16%; e os Estados do Centro-Oeste, 7% dos filiados à organização.
Os dados foram levantados em agosto do ano passado pelo Centro de Segurança Institucional e Inteligência do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) e abrangem integrantes presos e em liberdade. Não são oficiais já que o PCC opera na ilegalidade e, portanto, é impossível a realização de uma contagem exata.
Mesmo assim, segundo o promotor Lincoln Gakiya, que há anos investiga o crescimento da facção, os números dão uma noção sobre como o PCC atua com força em diversas regiões do país. "No Estado de São Paulo [onde o PCC surgiu há cerca de 30 anos], estimamos que existam 7.000 pessoas filiadas à facção. No Ceará, já são cerca de 1.400", afirmou o promotor. "Ou seja, para cada cinco criminosos 'batizados' pelo PCC em São Paulo, já temos um 'batizado' no Ceará."
De acordo com o MP-SP, os noves Estados do Nordeste juntos têm 3.818 criminosos filiados ao PCC. Depois do Ceará, Alagoas é o Estado com mais 'batizados': são 970. O Rio Grande do Norte vem em seguida, com 446 membros.
Justamente no Rio Grande do Norte, na Penitenciária de Alcaçuz, uma rebelião matou 26 presos no sábado (14). Desde então, detentos permanecem fora das celas provocando seguidos tumultos.
Segundo autoridades, o motim é motivado por disputas entre o PCC e o Sindicato do Crime do RN, uma facção local. "Estão as duas facções de frente, uma para a outra, tentando se enfrentar ", descreveu o vice-diretor da Penitenciária Alcaçuz, Jocélio Barbosa, ainda durante os confrontos desta semana.
Edmar Barros/Futura Press/Estadão Conteúdo
Neila Silva, mulher de um detento, se emociona em frente ao Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus

Confrontos entre facções no Norte

Disputas entre o PCC e outra facção, a FDN (Família do Norte), motivaram outras duas rebeliões ocorridas na região Norte: em Roraima e Amazonas. No dia 6, 31 presos morreram na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista (RR). Dias antes, 56 internos morreram no Compaj (Complexo Penitenciário Anísio Jobim), em Manaus (AM).
Investigações do MP-SP apontam que Roraima tem 782 criminosos ligados ao PCC. Já o Amazonas tem 116. Toda a região Norte possui mais de 6 mil filiados (13% do total do país).
"O PCC está em campanha em busca da supremacia no crime organizado no país", disse Gakiya ao UOL. "Esses confrontos estão ligados a esse processo. "

Estados monitoram expansão

Promotorias de outros Estados confirmam a chegada do PCC em diferentes regiões do país. Na Bahia, onde a facção tem 216 membros, ela atua como fornecedora de drogas para quadrilhas locais. Esse papel já foi identificado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MP-BA (Ministério Público do Estado).
Por causa dessa relação comercial, o MP-BA informou que o risco de confronto entre grupos de criminosos contra o PCC é menor. Mesmo assim, os filiados à facção paulista são separados em presídios.
O Gaeco do MP-CE (Ministério Público do Ceará) também confirma a presença do PCC no Estado. O órgão informou, porém, que não tem estimativas sobre o número de membros da quadrilha.
Para os membros do MP ouvidos pelo UOL –seus nomes foram preservados por questões de segurança--, o método de atuação do PCC facilita sua expansão. "Eles são muito organizados. Aproveitaram-se de divisões dentro de outras facções e ganharam espaço", disse um promotor baiano.
Procurado para comentar a atuação do PCC, o Ministério da Justiça informou que "só acompanha a presença de integrantes de facções nos presídios federais".

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